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Eu quero ter um milhão de amigos

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“Autoestima é a opinião e o sentimento que cada pessoa tem por si mesmo”.
Trecho do módulo “A sociedade do consumo e do culto exagerado aos padrões de beleza” do projeto Criança é Vida Crescer com Valores.

Base que fortalece o indivíduo para que consiga colocar em prática, com mais facilidade e alegria, outros valores importantes na vida, a autoestima é algo que vem do berço. Ou seja, ela é o resultado direto da relação que a criança tem com os pais, como explica a psicóloga, psicanalista e formadora do Instituto Criança é Vida, Elba Almeida. “Se a criança vem de um ambiente em que ela está perto de adultos, sejam eles pais ou cuidadores, que sejam afetuosos, constantes e acolhedores, na maioria das vezes, ela tem uma boa autoestima”.

Imagem: Instituto Criança é Vida

A afirmação é compartilhada pela professora e formadora do Instituto nas áreas área de educação sexual e prevenção ao uso de drogas, Célia Siqueira, que alerta para o fato de que sem orientação dos pais, “as meninas podem se expor a perigos” nas redes sociais. Ela também destaca o papel de mães que, muitas vezes, estimulam a exposição das próprias filhas. “São as novas mães de miss. Como aquelas mães que, há 40 anos, estavam sempre ao lado das filhas exibindo suas qualidades”, completa.

As redes sociais

As redes sociais inauguraram um novo capítulo na construção da autoestima de toda uma geração. Se há pouco mais de duas décadas a busca por aprovação estava direcionada ao grupo de amigos da escola, atualmente é a quantidade de “amigos” e “likes” que determinam o sucesso ou o fracasso de alguém.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Para a psicóloga Elba Almeida, “até o conceito de amizade mudou com a internet”. Segundo ela, é buscando a aprovação de um outro, que ele nem sabe quem é, que o adolescente aceita qualquer pessoa nas redes sociais. “Porque acha que o legal é isso. É você ter muitos amigos, que não são amigos na verdade”.

Para ela, em muitos casos, a internet preenche lacunas deixadas pelos pais. “O que pode ser muito perigoso. Por isso, é muito importante os pais estarem por perto e terem esse papel de filtro para ajudar os adolescentes a lidarem com a angústia de se sentir rejeitado na rede social”, alerta.

Em seu artigo “O que as mídias sociais estão fazendo com sua autoestima e bem-estar?“, o psicólogo Cristiano Nabuco, descreve o que chamou de “’legítimo’ processo de inferiorização pessoal”, que é quando a pessoa não se compara mais com artistas ou modelos de sucesso, mas sim com pessoas comuns e por isso se sente ainda pior.

Imagem: Instituto Criança é Vida

A melhor maneira de inverter essa lógica, segundo a psicóloga Elba Almeida, é mostrando ao adolescente que o que está acontecendo na rede social não é a vida real, em que você escolhe com quem quer se relacionar, e provocar questionamentos sobre o quanto aquele tipo de pessoa que ele segue o faz se sentir inferior. “Esse é o tipo reflexão que um adulto precisa provocar, já que dificilmente a criança, o pré-adolescente ou adolescente vai fazer isso sozinho”, ensina.

Exposição feminina

As mulheres representam 59% dos usuários que utilizam a rede de compartilhamento de imagens (Facebook e Instagram)
Fonte: Agência We Are Social e a plataforma Hootsuite/2017

Ao contrário da média mundial, em que os perfis masculinos predominam, as mulheres são a maioria nas redes sociais no Brasil. A falta de fiscalização das plataformas permite que qualquer menina, mesmo menor de idade, tenha um perfil nas redes sociais, aumentando a exposição a riscos como o da pedofilia.

Para a especialista em violência sexual, Elba Almeida, as meninas estão mais expostas nas redes sociais em consequência de uma sociedade muito machista onde a mulher é colocada no lugar de objeto. “A rede social aparece como uma ferramenta para a mulher se legitimar nesse lugar de objeto, em que ela é valorizada pelo corpo ou pela beleza que tem”. O que traduz, mais uma vez, uma autoestima ruim.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Para Célia Siqueira, “a necessidade feminina de se expor nas redes muitas vezes é confundida com uma forma de empoderamento quando, na verdade, a mulher está apenas seguindo o padrão da sensualidade”.

O comportamento dos pais que postam imagens dos filhos para qualquer pessoa, e em situações muitas vezes constrangedoras para a criança ou o adolescente, sem o consentimento ou até o conhecimento dela, também merece reflexão.

Para Elba Almeida, “existe o desrespeito dos pais que, muitas vezes sem perceber, sem olhar para a criança ou o bebê como um indivíduo, não percebem e não pensam que quando você joga alguma coisa na rede não tem volta, aquilo não é mais seu”.

A formadora Célia Siqueira traz o relato de uma professora que, ao descobrir um vídeo de uma menina dançando uma música sensual na internet, conversou com a aluna explicando que levaria o fato ao conhecimento da mãe para que ela retirasse o conteúdo da rede social. A resposta da criança foi um sorriso e a frase: “foi minha mãe que gravou”.

“Autoestima é ser capaz de respeitar a própria maneira de ser, tanto externamente como internamente, ou seja, tanto na aparência como nos sentimentos e se sentir bem em ser como é.”
Trecho do módulo “A sociedade do consumo e do culto exagerado aos padrões de beleza” do projeto Criança é Vida Crescer com Valores.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Espaço para contestação

Ao mesmo tempo em que reforçam estereótipos e afetam a autoestima, as redes sociais também são um espaço para o questionamento dos padrões vigentes.

Célia Siqueira traz o exemplo de uma jovem que, na faixa dos 18 aos 20 anos, decidiu postar nas redes sociais fotos suas em que exibe as axilas sem depilar acompanhadas de textos sobre o empoderamento feminino. “A gente percebe que a postagem é uma tentativa de aceitação, mas com a necessidade de contrariar o padrão normativo”.

A psicóloga Elba Almeida também identifica esse tipo de movimento na atitude de meninas que começam a deixar de seguir modelos inatingíveis, como as musas fitness, e passam a buscar pessoas cujos interesses estejam mais próximos aos seus. “É um movimento bonito de questionamento e de percepção de que a rede social estava fazendo mal daquele jeito que ela estava usando”, conta.

“Autoestima é ter consciência do próprio valor.”
Trecho do módulo “A sociedade do consumo e do culto exagerado aos padrões de beleza” do projeto Criança é Vida Crescer com Valores.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Iniciada no berço e fundamental durante vida toda, o entendimento do que significa autoestima está presente em vários projetos do Instituto Criança é Vida. Ela aparece como tema transversal nos projetos Crescer com Valores, Educação Sexual, Viver Bem e até Saúde Financeira. Na opinião da formadora Célia Siqueira, o papel do Instituto é o de construção de uma rede de apoio, a partir da formação dos educadores, que possa auxiliar a criança no desenvolvimento da sua autoestima.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Nossa preocupação é trabalhar temas e questões que ajudem a garantir o bem-estar físico, emocional e social de crianças em situação de vulnerabilidade social. Entender e valorizar autoestima é fundamental para se dar ao respeito e respeitar, para bem escolher valores e condutas na vida. Buscamos, com nossos projetos, acolher educadores e crianças oferecendo conhecimento para que a vida flua de forma mais leve e saudável, ressalta Regina Stella Schwandner, Diretora Superintendente do Instituto Criança é Vida.