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Intervir é prevenir

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Ao contrário do que se acreditou por muito tempo, pesquisas revelam que falar sobre o suicídio não inocula a ideia na mente das pessoas. No momento em que os meios de comunicação perdem cada vez mais espaço para as redes sociais, contribuir para disseminar informações de qualidade sobre o tema é também uma forma de intervenção e prevenção.

Exemplo disso foi a criação, em 2015, do movimento Setembro Amarelo, cujo slogan é “falar é a melhor solução”. Criada pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) para lembrar o mês da prevenção do suicídio, a campanha propõe várias ações como iluminar monumentos públicos na cor do movimento.

Imagem: Site CVV

No entanto, por ser responsável por 1,4% de todas as mortes no mundo (OMS/2017), o suicídio já não pode ser lembrado apenas durante um mês. A velocidade com que as informações circulam nas redes sociais também faz com que a atitude de falar sobre a prevenção seja cada vez mais urgente.

Aprender a identificar os principais sinais de um comportamento suicida é o primeiro passo na prevenção. No caso de crianças e adolescentes, a Secretaria da Saúde do Rio Grande do Sul criou um Guia que aponta alguns destes sinais: o crescente isolamento de amigos e família, a diminuição do rendimento escolar, a autoagressão e mudanças na alimentação e/ou hábitos do sono.

Imagem: Site da Secretaria de Saúde do RS

Derrubar alguns mitos é outra atitude importante. Crenças como “as pessoas que ameaçam se matar não farão isso, querem apenas chamar a atenção” ou “quem planeja se matar está determinado a morrer” devem ser evitadas. Ainda de acordo com o Guia, “a pessoa muitas vezes não deseja a morte, mas uma saída para o seu sofrimento. Por isso, acesso a suporte emocional no momento certo pode prevenir o suicídio”.

Para lidar com qualquer adolescente, mas principalmente com aquele que apresenta ideações ou comportamentos suicidas, a psicóloga Lívia M. G. Lopes orienta que “deve-se construir um espaço de escuta e livre expressão, sem julgamentos ou minimização de seus sentimentos e demais questões existenciais. É importante estimular o diálogo e as habilidades internas do jovem para suas próprias necessidades de tomada de decisão e sustentá-lo neste momento de desafios às suas próprias aspirações”.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Oferecer ajuda é fundamental. Seja perguntando, ouvindo ou buscando atendimento especializado. No Centro de Valorização da Vida (CVV) voluntários dão apoio emocional gratuito, 24h por dia, por telefone (188), chat ou e-mail.

Especialista em tecnologia, Aline Bezzoco, de 29 anos, foi além e criou, com a supervisão da sua psicóloga, o aplicativo “Tá tudo bem?”. Disponível gratuitamente, o app oferece alternativas terapêuticas, como ferramentas de meditação e um botão de emergência que liga o usuário ao CVV.

Informação segura

Se é papel do jornalista checar a veracidade e avaliar a pertinência do que divulga, nas redes sociais a dinâmica é outra. As informações são repassadas rapidamente sem muito critério e sem que as consequências dessa atitude possam ser dimensionadas. Na tentativa, por exemplo, de alertar um grupo de mães sobre um vídeo que estimula o suicídio entre jovens, a pessoa que compartilha o material está contribuindo para que ele viralize e seja visto por mais pessoas sem qualquer controle.

Imagem: Instituto Criança é Vida

Para o psicólogo (UnB) e especialista em Teoria Psicanalítica (PUC-SP), Julio César Nascimento, “muitas vezes o objetivo consciente de certos grupos que desenvolvem estratégias de impulsionamento de conteúdo digital é precisamente causar perplexidade e indignação. Pois estudos de psicologia comportamental, psicologia social e psicanálise já demonstram que diante destas emoções tendemos a descarga imediata através da resposta motora”. Por isso, segundo o mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP) e professor do Curso de Formação em Psicanálise do Centro de Estudos Psicanalíticos, é preciso refletir, “analisar o conteúdo, decidir de forma responsável se vamos colaborar para ele viralizar”.

Anote aí:

Aplicativo Tá tudo bem?
https://play.google.com/store/apps/details?id=com.ionicframework.tatudobemapp&hl=pt_BR

Centro de Valorização da Vida
www.cvv.org.br

Guia Intersetorial de Prevenção ao Comportamento Suicida em Crianças e Adolescentes
https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/carga20190837/26173730-guia-intersetorial-de-prevencao-do-comportamento-suicida-em-criancas-e-adolescentes-2019.pdf