É tradicionalmente no mês de dezembro que o faturamento do comércio registra seus maiores aumentos, graças às vendas de Natal. Há alguns anos, porém, a última sexta-feira de novembro vem ganhando status de pré-venda natalina. É quando lojas físicas e virtuais prometem descontos que passam de 50%, 70% na chamada Black Friday. Originalmente criada nos Estados Unidos, a data ganhou destaque no Brasil depois da popularização da internet e, hoje, é amplamente conhecida em nosso país.
Contudo, nem tão conhecido assim é o Dia Internacional sem Compras, que também acontece no fim de novembro. Em 2015, a data foi comemorada exatamente um dia após a Black Friday, em 28/11. E, ao contrário do que propõe o movimento, muitos consumidores correram às lojas para aproveitar os preços ainda baixos, reflexo da sexta-feira de descontos.
NECESSÁRIO X SUPÉRFLUO: EQUILÍBRIO
O equilíbrio entre os conceitos de supérfluo e necessário poderia ser um caminho simples para evitar o consumo em excesso ou por impulso, como no caos das promoções “imperdíveis”. Mas, ao contrário do que parece, decidir entre o necessário e supérfluo pode ser extremamente complicado. Isso porque, desde muito cedo, nossas crianças vêm sendo constantemente expostas a propagandas de televisão que estimulam cada vez mais o consumo, fazendo com que brinquedos, telefones celulares e até marcas, sejam considerados produtos extremamente necessários.
Para sensibilizar as crianças, suas famílias e seus educadores para questões inerentes à sociedade atual na qual estamos inseridos – dentre elas a prática do consumo – foi criado, em 2014, o projeto Criança é Vida – Crescer com Valores.
No ciclo “Conhecer e Construir”, direcionado a meninos e meninas entre 7 e 9 anos, o foco está na formação de crianças mais conscientes dos seus valores e com a autoestima fortalecida, capazes de identificar suas próprias emoções e seus desejos e lidar com as frustrações.
Lançado em 2015, o ciclo “Nosso Papel para uma Sociedade Melhor”, do mesmo projeto, é voltado para a faixa etária dos 10 aos 12 anos. Com a proposta de trabalhar com as crianças conteúdos que ampliem a consciência sobre o papel de cada um na sociedade, um dos seis módulos do projeto oferece a elas elementos para pensar sobre as questões do “ter” (consumismo) e fortalecê-las para que possam fazer melhores escolhas e tomar decisões mais conscientes.
Também no Terceiro Setor, o projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, atua no combate a qualquer tipo de comunicação mercadológica (TV, jornal, internet, ponto de venda etc) dirigida às crianças. No documentário “Criança, a alma do negócio”, de 2008, o Instituto faz um alerta sobre os resultados dos apelos de mercado junto ao público infantil e propõe a reflexão sobre o tema.
O assunto também vem sendo tratado pelo Senado Federal, onde atualmente tramitam dois Projetos de Lei que pretendem limitar a exposição das crianças aos apelos do consumo.
De autoria do senador Eduardo Amorim (PSC – SE), o PLS 493/2013 prevê alteração no Estatuto da Criança e do Adolescente para regulamentar a emissão de conteúdos voltados ao público infanto-juvenil e proibir a publicidade direcionada a crianças no horário diurno.
Já o PLS 360/2012, de autoria do ex-senador Vital do Rêgo (PB), vai além e propõe alterações no Código do Consumidor com o objetivo de disciplinar a publicidade dirigida a crianças e adolescentes. Obedecer a um cuidado que evite distorção psicológica no modelo publicitário e na criança / adolescente está entre os critérios propostos pelo projeto para que a propaganda não seja proibida.
Independentemente das propostas de regulamentação ou extinção da publicidade direcionada ao público infantil, é dentro de casa que os adultos têm um papel fundamental na formação de valores pelas crianças. É principalmente a partir das próprias atitudes que eles podem ajudar as crianças a aprenderem a praticar o consumo consciente.
Começar tentando distinguir e identificar o que é necessário e o que é supérfluo em suas vidas pode ser um bom exercício. A mudança de alguns hábitos também pode ajudar. Veja as dicas abaixo. A construção de uma sociedade diferente, mais consciente e menos consumista só será possível com a ação de cada um de nós.
1 – Desligar a televisão durante as refeições, além de diminuir a exposição à publicidade, permite que as pessoas se concentrem mais no que estão comendo e percebem quando já estão saciadas, evitando, assim, os riscos de distúrbios alimentares (comer em excesso, ou comer muito pouco).
2 – Em vez de assistir a TV, você pode conversar com as pessoas que moram com você. Perguntar como foi o dia, o que fizeram de interessante. E contar como foi o seu dia.
3 – A TV ligada, como barulho de fundo enquanto as pessoas estudam, interfere na concentração delas, produzindo efeitos negativos no desenvolvimento de sua inteligência.
4 – Participar de eventos internacionais tais como o Dia sem ver TV – 10 de maio – ou o Dia sem Compras – 28 de novembro.
Retirado do livro: O que fazer para proteger nossas crianças do consumismo. Editado pelo Núcleo Alana de Defesa e Educação.