Ao longo dos últimos 20 anos, trabalhamos para promover a saúde física e emocional de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Fazemos isso oferecendo formação, principalmente, para aqueles que lidam diretamente com esse público: os educadores. São professores, pedagogos, cuidadores, estudantes e profissionais que têm, na sua prática cotidiana, atuando em instituições, ONGs e escolas, o importante papel de transmitir às crianças e a suas famílias conceitos básicos, porém capazes de transformar a sua realidade para melhor.
Em duas décadas de atuação, o Instituto Criança é Vida, já formou milhares de educadores. São eles os grandes responsáveis por promover a multiplicação de atitudes positivas que trabalhamos para incentivar e, assim, ajudar a criar um país com mais saúde.
Para reconhecer e premiar o trabalho destes profissionais, criamos, em 2016, a Campanha de Reconhecimento “Educando para a saúde: eu faço a diferença”. A ideia foi identificar as melhores práticas educativas criadas por educadores que participaram de nossas formações e que tivessem bom potencial para multiplicação.
A Campanha foi lançada em maio de 2016 e, a partir do nosso site, as atividades puderam ser inscritas ao longo de cinco meses. A escolha dos vencedores ficou a cargo de uma comissão julgadora, liderada pela bióloga, formadora do Instituto, Célia Siqueira. No último mês de março, os vencedores foram conhecidos. Robert Eduardo Andrade, Marta Regina de Souza e Marina Claudino dos Santos foram os três primeiros colocados, respectivamente.
A premiação aconteceu na sede do Instituto Criança é Vida, no dia 23/03, em São Paulo, e contou com a presença de toda a nossa equipe. Os vencedores receberam, das mãos da Diretora Superintentende, Regina Stella Schwandner, os troféus pela participação, além de prêmios em dinheiro.
Promovendo o diálogo, aproximando famílias
Aos 34 anos, o educador, estudante do último semestre de Serviço Social e pós-graduando em Projetos e Políticas Sociais, Robert Eduardo Andrade foi o primeiro colocado com a atividade “Família e Relações Familiares”. O trabalho foi desenvolvido com crianças e adolescentes atendidos pela Vivenda da Criança, em Parelheiros, no extremo sul de São Paulo. A ONG acompanha quase cinco mil famílias em situação de vulnerabilidade social na região.
No Centro da Criança e do Adolescente – CCA da ONG – Robert trabalha com 180 crianças e adolescentes, entre 6 e 14 anos de idade, sempre no contra turno escolar. Os jovens participam de oficinas lúdicas em que o educador procura aplicar os conhecimentos adquiridos nos projetos oferecidos pelo Instituto Criança é Vida. Em 2016, Robert participou pela primeira vez dos projetos Crescer com Valores e Educação Sexual.
A inspiração para participar da Campanha de Reconhecimento veio da qualidade dos materiais do Instituto Criança é Vida e do desejo de compartilhar o próprio conhecimento. O educador, que não esperava receber a premiação, se diz muito satisfeito em saber que que alguém olhou e gostou do seu trabalho. “Isso pra mim é o mais importante”, conta.
Com a atividade premiada, Robert procurou promover entre as crianças e adolescentes um ambiente favorável para que falassem de suas dificuldades de relacionamento e comunicação em família. O projeto, que envolveu e sensibilizou também os pais, promoveu rodas de conversa e incluiu a redação de cartas em que os participantes puderam expressar questões que até então não conseguiam transformam em diálogo em família. “Na região onde eu atuo existe uma carência muito grande de escuta dentro de casa”, revela o educador.
Para Robert, a melhor parte do processo foi ver que as pessoas mais resistentes no começo da atividade foram aquelas que mais falaram coisas interessantes e importantes para elas no final. “Quando uma atividade mexe com os sentimentos, ela sempre pode nos trazer surpresas. Saber trabalhar com isso é muito legal. É importante estar preparado para tudo que pode vir. E os cursos do Instituto Criança é Vida nos trazem isso”, diz.
Mais limpeza é mais saúde
Marta Regina de Souza tem 48 anos, é pedagoga e, desde 2008, participa das formações ministradas pelo Instituto Criança é Vida. Este ano, com a atividade “Eu cuido, eu preservo, eu vivo”, Marta foi a segunda colocada na Campanha de Reconhecimento. A atividade premiada aconteceu na ONG Família Feliz, no município de Taboão da Serra, em São Paulo, e envolveu cerca de 30 crianças por turno, de 7 a 9 anos de idade, três vezes por semana, ao longo de três meses. A iniciativa surgiu a partir de um problema recorrente em comunidades: o descarte irregular de lixo.
A ONG, que atua na área da saúde fazendo agendamento de exames e consultas médicas, atende crianças no contra turno escolar e convive de perto com o problema. A sede fica em frente a um rio poluído. “As crianças que frequentam a ONG convivem diariamente com essa realidade e as famílias que fazem o descarte são as mesmas que moram nas proximidades do rio”, explica Marta Regina. Por isso, no início a atividade sofreu com a resistência dos moradores. A estratégia para vencer essa barreira foi sensibilizar primeiro as crianças para que elas, depois, pudessem conscientizar também os pais. “Para essas crianças, o descarte irregular de lixo é algo comum. Eles já cresceram vendo isso”, conta.
Nascida na região, a pedagoga utilizou a própria experiência de vida para ilustrar uma realidade que seus alunos nunca conheceram. “Contei que quando eu era pequena esse rio tinha peixinhos e que as crianças podiam entrar nele. Também busquei imagens da época na internet para mostrar para eles”, relembra.
Fotografar os maus exemplos de descarte de lixo ao longo do rio foi uma das etapas da atividade que contou também com a leitura de histórias sobre o meio ambiente e com as apostilas do projeto Viver Bem, do Instituto Criança é Vida, como material de apoio. Para finalizar, o grupo confeccionou cartazes a partir das fotos que fizera. Painéis foram montados em locais públicos da comunidade como escolas e o posto de saúde.
Atualmente, o impacto da atividade já pode ser visto na prática. Caçambas foram instaladas pela Prefeitura na região e a população vem fazendo o descarte regularmente nestes locais. “Quando visitamos as famílias ouvimos queixas sobre a falta de lugar para colocar o lixo e sobre a demora na coleta”, conta a educadora. O próximo passo previsto para o projeto é a intervenção junto às empresas próximas que ainda fazem o despejo de resíduos sem tratamento no rio.
A possibilidade de ver a sua atividade multiplicada em outras regiões com problemas semelhantes foi o que mais motivou a educadora a participar da Campanha de Reconhecimento. Para ela, ganhar a premiação foi uma surpresa: “Eu acredito no meu projeto e naquilo que eu fiz, mas não imaginava ser premiada”. Apesar de inesperado, o reconhecimento já repercutiu na própria comunidade. Famílias querem replicar a iniciativa novamente este ano, desta vez incluindo um número ainda maior de crianças e envolvendo também as empresas. “Se cada um fizer a sua parte, um dia vai dar certo”, conclui.
A beleza na diversidade
Formada em Educação Física e Dança, Marina Claudino dos Santos, de 30 anos, foi a terceira colocada na Campanha de Reconhecimento com a atividade “A boneca perfeita”. Orientadora socioeducativa do Centro da Criança e Adolescente do Jardim Aurélio, no bairro do Capão Redondo, em São Paulo, Marina propôs a atividade a partir de uma demanda surgida espontaneamente entre crianças e adolescentes de 9 a 14 anos.
No início seria apenas uma atividade teatral. Para isso, iriam precisar de alguns objetos e um deles era uma boneca. Pensando em promover a representatividade entre as crianças negras e a reflexão entre as demais sobre os padrões brancos nas imagens (livros, revistas, desenhos), a professora levou para a turma uma boneca negra. Mas a reação do grupo mudou o rumo da proposta. “Quando eu fui explicar a atividade do teatro e mostrei a boneca, minha explicação foi perdida, pois o assunto virou a beleza da boneca”, conta. Surgiram comentários como: “Que boneca feia”. “Foi triste ver meninas negras não se reconhecerem na boneca. Não tinham visão de representação, porque não têm representatividade. Para elas a boneca branca seria ideal”, lamenta.
A partir daí, usando uma história autobiográfica em que as protagonistas eram mãe, filha e boneca negras e jogos de quebra-cabeça, Marina criou uma atividade com o objetivo de promover um ambiente de reflexão sobre o racismo entre as crianças. “Minha expectativa era a de que eles refletissem e entendessem que não existe um padrão, que somos diversos. Acredito que o resultado foi alcançado naquele dia, mas essa é uma questão que deve ser trabalhada diariamente em todos os espaços para que haja aprendizagem de fato”, enfatiza a educadora que participou da formação do projeto Viver Bem, do Instituto Criança é Vida. Para Marina, a importância da premiação é “poder sentir que essa atividade poderá ser multiplicada em outros espaços”.
Na avaliação da Regina e da Célia, a primeira experiência de reconhecer o trabalho dos educadores revelou a dificuldade dos participantes em redigir suas próprias experiências educativas. Por outro lado, o perfil e a felicidade dos ganhadores foram motivo de muita satisfação. “Os vencedores eram pessoas muito entusiasmadas com o real objetivo de educar e comprometidas com o aprender, inclusive dentro dos nossos projetos”, afirma a diretora.
Mais uma vez, o Instituto Criança é Vida parabeniza os ganhadores, agradece a participação de todos na Campanha de Reconhecimento e destaca a importância do trabalho dos educadores que conseguem levar até crianças, adolescentes e suas famílias, o aprendizado adquirido nas nossas formações e ainda propor algo mais. Nosso papel será sempre o de contribuir para qualificar, apoiar e reconhecer o trabalho de profissionais assim.