Enquanto 1343 crianças e adolescentes esperam por adoção em todo o Estado de São Paulo, existem 8452 candidatos em fila, aguardando a sua vez de se tornarem pais. Isso significa mais de seis candidatos a pais para cada criança ou adolescente a espera de adoção. Por que, então, elas continuam nos abrigos sem uma família? A explicação para este desencontro está na expectativa da maioria dos pretendentes a pais, que só aceita adotar crianças com até três anos de idade, enquanto a maior parte daquelas que ainda aguardam adoção já ultrapassou essa faixa etária.
Para criar uma alternativa para quem está nesta situação e que, portanto, tem poucas chances de conseguir uma nova família, a Vara Central da Criança e do Adolescente de São Paulo criou uma campanha para encontrar “padrinhos” dispostos a passar pelo menos uma hora por semana com as crianças. Com este apelo, a campanha, lançada em abril deste ano, foi muito bem sucedida e mais de cinco mil interessados já haviam se candidatado até meados de junho.
Segundo a psicanalista Márcia Porto, coordenadora do programa no Instituto Sedes Sapientiae, o que o Apadrinhamento Afetivo propõe é muito mais do que uma hora de dedicação a outra pessoa. “É o exercício de uma função fraterna e solidária, diferente do modelo tradicional de adoção familiar, e onde há menos posse”, diz Márcia. O Instituto é o responsável pela preparação dos candidatos a padrinhos, dos gestores dos abrigos e das crianças e adolescentes envolvidos no programa.
Representantes de três abrigos, 25 futuros padrinhos e 22 crianças já estão fazendo parte de um projeto piloto em que cada grupo se reúne quinzenalmente em encontros coordenados por dois profissionais do Instituto Sedes Sapientiae. Segundo a coordenadora, estes são espaços de escuta e que permitem que os indivíduos possam se constituir enquanto grupo. Na próxima etapa do piloto, em agosto, os encontros passarão a acontecer entre os grupos. Depois do início das visitas, todos serão acompanhados por um ano.
Um diferencial do programa é que não será indicado o padrinho para cada criança, como normalmente acontece nas adoções. Estas escolhas serão feitas entre eles, a partir dos encontros entre os grupos, abrindo com isso a possibilidade de que as pessoas se vinculem entre si de forma espontânea.
Neste piloto, o perfil dos candidatos é de pessoas jovens e, algumas com experiência prévia em atividades voluntárias. Entre aqueles que não foram adotados estão muitas crianças a partir de sete anos e adolescentes, alguns com idades próximas aos 18 anos, quando precisarão deixar os abrigos. Para estes jovens, o Apadrinhamento Afetivo, abre também uma importante possibilidade de vinculação fora do ambiente abrigado.
Em uma sociedade de pessoas cada vez mais individualistas, apressadas e tecnológicas, a proposta do programa soa como um chamado ao encontro. Pare, deixe de olhar apenas para si mesmo, escute o que o outro tem a dizer, seja solidário! O mundo agradece.