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Adolescência: tempo de mudanças

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Na era da informação, o aumento da contaminação por HIV entre jovens e a gravidez na adolescência ainda frequente no Brasil revelam um comportamento que preocupa.

Imagem: Creative Commons CC0
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Se nas últimas décadas a prática do sexo seguro se fortaleceu diante do risco da AIDS, atualmente vem sendo negligenciada por alguns grupos, em especial os adolescentes. É o que mostra o relatório anual do Programa das Nações Unidas sobre HIV (Unaids), divulgado em 2015. Segundo o documento, houve um crescimento do número de contaminação pelo vírus entre jovens no País, entre 2004 e 2013: o aumento foi de 53% entre garotos na faixa etária dos 15 aos 19 anos.

As garotas também não estão fora das estatísticas. Pelo contrário. A faixa etária entre 13 e 19 anos é a única em que o número de casos de AIDS (quando a doença provocada pelo HIV se manifesta) é maior entre as mulheres no País. Os dados, de 2012, são do Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e mostram ainda que quanto menor o nível de escolaridade, maior o número de infectados entre os jovens.

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Ainda no caso das meninas, outro número nos inquieta. Um total de 414.105 já são mães entre os 15 e os 17 anos e, destas, apenas 1 em cada 4 continua estudando. É o que mostra um levantamento feito pelo Movimento Todos pela Educação, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), de 2013.

Para a Psiquiatra e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Profa. Dra. Carmita Abdo, a atração pelo risco, pela exposição ao perigo de toda natureza, é um comportamento natural da juventude, mas não exclusivo da geração atual. “Lembro que, nos anos 90, a maior causa de internação de meninas e adolescentes de 10 a 19 anos no SUS era a gravidez indesejada. A situação não parece diferente nos dias atuais. Apenas é mais flagrante, em todos os sentidos. Entretanto, não é incorrigível, o que nos faz lamentar décadas de estagnação”, conta.

Imagem: Creative Commons CC0
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Em relação à AIDS, a Profa. Dra. Carmita, que é Fundadora e Coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) / (FMUSP), aponta a evolução do controle da doença, nos últimos anos, somada à falta de educação sexual nas escolas (numa fase anterior à iniciação sexual) e às campanhas públicas apenas episódicas sobre a importância do sexo seguro, como fatores que contribuem para que os adolescentes atualmente já não tenham tanto medo da doença. “Se a Aids já não mata como antes, se o adolescente desconhece o perigo quando inicia a vida sexual, acaba se expondo mais. Dimensionar o perigo e se proteger, depois que se iniciou e se habituou a uma prática de risco, é menos provável”, esclarece a especialista.

Entre as razões que podem explicar a maternidade precoce, a professora aponta “o anseio da jovem, ainda que inconsciente, por uma (equivocada) perspectiva de mudança de vida”.

Os dados relacionados ao comportamento sexual de jovens citados nesta matéria traduzem uma realidade com a qual trabalhamos cotidianamente em nossos projetos e que queremos modificar. E mais, reforçam a nossa convicção de que educar para a saúde ainda é o melhor caminho para a constituição de adultos com uma boa qualidade de vida física e emocional.

Por isso, atentos a esse cenário e à demanda crescente por informação de qualidade, em 2016 o nosso público se ampliou. Além das crianças de 0 a 12 anos que, durante 20 anos, foram o foco principal do nosso trabalho, agora chegou a vez de reunirmos ainda mais esforços para atender também meninos e meninas de 13 a 15 anos.

Falar em adolescência é falar de um tempo de mudanças. É quando as crianças deixam a infância e entram em uma nova fase da vida que ainda não é a fase adulta, mas um período de transição, cheio de transformações no corpo, no comportamento, nos sentimentos. Meninos e meninas precisam lidar com muitas novidades, descobertas, desejos e dúvidas que podem gerar ansiedade e medo. E nós, adultos, também precisamos estar bem preparados para dar o suporte do qual eles precisam.

É com a chegada da puberdade, que acontece durante a adolescência, que as mudanças corporais (principalmente as hormonais) começam a interferir no comportamento, provocando alterações sociais e psíquicas nem sempre fáceis de compreender. A menstruação, nas meninas, e a ejaculação, nos meninos, são exemplos de fenômenos biológicos que fazem parte desta etapa da vida e que introduzem os adolescentes em um novo universo do qual fazem parte a reprodução e o sexo.

E falar sobre sexo pode ser difícil até mesmo para os adultos. O contexto familiar, a formação religiosa, cultural ou a própria personalidade são fatores que interferem na maneira como cada pessoa lida com o tema, muitas vezes cercado de proibições, preconceitos e medos. Por isso mesmo, a educação sexual foi o tema escolhido para dar início ao nosso trabalho com o público adolescente. Acreditamos que a qualidade da educação sobre sexo na adolescência possa contribuir para a formação de jovens e adultos mais seguros e felizes.

Imagem: Creative Commons CC0
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Com base em nossas experiências anteriores, com crianças entre 7 e 12 anos, aprendemos que uma abordagem meramente informativa e/ou biológica pouco contribui para o interesse e o aprendizado desse público. Acreditamos que a forma de comunicação com os jovens é uma das chaves para o sucesso de projetos como os nossos. Por isso, em “Sou Adolescente – Quantas Mudanças!”, voltado para meninos e meninas entre 13 e 15 anos, usamos uma linguagem próxima a eles, além dos meios com os quais estão familiarizados, como vídeos no Youtube. Assim, buscamos alertar, por exemplo, sobre os riscos da comunicação virtual com estranhos ou esclarecer sobre a importância de praticar o sexo seguro.

Na opinião da Profa. Dra. Carmita Abdo, que também é Assessora Científica do Instituto, esses projetos têm uma importância vital. “O conteúdo, a forma de aplicação, a diferenciação por faixa etária, o início em idade adequada, o treinamento prévio dos multiplicadores são os pontos fortes. Tudo isso somado à vasta experiência do Instituto Criança é Vida em treinar os profissionais para transmitir educação sexual sem equívocos nem meias palavras”, conclui.

Referências:

Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde

Relatório “Como a AIDS mudou tudo” – Unaids (inglês)

Todos pela Educação – Meninas são maioria entre jovens de 15 a 17 anos “nem-nem”