No mês em que comemoramos o Dia do Professor (15 de outubro), nosso destaque vai para eles, os educadores que, em todo Brasil, dedicam suas vidas ao ensino de milhões de estudantes nas mais diferentes áreas. Na educação para a saúde não é diferente. É graças ao trabalho dos mais de 1.500 educadores que, anualmente, participam de nossas formações, que conseguimos levar mais informação e conhecimento até crianças, adolescentes e suas famílias. Junto com esses profissionais, trabalhamos para que um número cada vez maior de pessoas consiga escrever histórias de vida com mais qualidade.
Importantes multiplicadores das ações do Instituto Criança é Vida e fundamentais para o desenvolvimento de qualquer país, os docentes no Brasil, além de ensinar, também precisam driblar muitas dificuldades. Dos 2,2 milhões de professores, segundo dados divulgados pela Fundação Lemman, grande parte ainda leciona sem ter a formação adequada para a disciplina ministrada – somente 56% dos professores de Matemática para os anos finais do Ensino Fundamental têm realmente formação nesta área, ou seja, pouco mais do que a metade.
Uma iniciativa para tentar levar mais qualificação a esse público é o programa de formação de professores lançado em outubro pelo Ministério da Educação (MEC). Além de facilitar o acesso dos profissionais a novos cursos, o objetivo do programa é oferecer 80 mil bolsas para que estudantes de licenciatura possam fazer estágios supervisionados em escolas antes mesmo de se formarem. Já os professores formados poderão fazer uma segunda licenciatura com bolsas pelo programa ProUni (programa do MEC que oferece bolsas em instituições privadas de ensino superior), sem a necessidade de comprovação de renda.
Criança: o melhor investimento
Se incentivar a formação de nível superior para nossos professores é importante, investir na educação de crianças de zero a seis anos é fundamental para mudar um país. É o que defende o economista e Nobel de Economia, James Heckman, que em setembro participou de um evento sobre educação na primeira infância, em São Paulo, organizado pelas revistas VEJA e EXAME. No pacote de ações para o combate à desigualdade defendidas por ele está o trabalho de sensibilização dos pais com informações sobre a importância de estimular o desenvolvimento infantil. Para Heckman, iniciativas assim são mais eficazes do que políticas de distribuição de renda.
Levar informação a crianças, adolescentes e famílias é o que faz diariamente o educador Clayton Santos. Quando menino ele sonhava em ser motorista de ônibus ou militar. Hoje, afirma já ter nascido professor. Seu primeiro contato com a educação foi ainda na juventude, quando atuou como voluntário em uma organização social. “Lá eu fiz cursos de recreação e gestão de lideranças, o que me fez crescer como pessoa, e comecei a trabalhar com recreação infantil. Fui pegando o gosto em trabalhar com crianças”, lembra. Aos 32 anos, formado em Pedagogia, há nove anos Clayton é orientador social e recreador do Centro Comunitário Castelinho, que atende 180 crianças e adolescentes de 12 a 14 anos, em Interlagos, Zona Sul de São Paulo.
O Instituto na prática
A partir das formações do Instituto Criança é Vida, o educador desenvolve diversas atividades ligadas a temas como sexualidade e saúde financeira, por exemplo, além de outros trabalhos nas áreas de prevenção às drogas, higiene, lazer e recreação. Além de promover o conhecimento, Clayton também atua na formação de novos “multiplicadores”. “Eu aplico as brincadeiras com os alunos, eles aprendem e aplicam com os grupos de crianças menores”, conta.
“O trabalho que o Instituto vem fazendo é importante para o meu crescimento como multiplicador. Nos cursos eu adquiro informação e posso levá-la aos adolescentes tendo o suporte das apostilas. São materiais muito ricos, dinâmicos, com imagens e linguagem que os adolescentes conseguem entender. Dessa forma lúdica é possível atingir os nossos objetivos não só com os adolescentes, mas com alunos de todas as faixas etárias.”
Clayton Santos
Para a educadora Maria Luciana Bernardes, 44, que há cinco anos leciona na Associação Mogicruzense para a Defesa da Criança e do Adolescente – AMDEM, de Mogi das Cruzes, “os projetos do Instituto vieram para complementar as oficinas com as quais já trabalhávamos”. A orientadora social é responsável pela aplicação de projetos e oficinas sobre temas como violência, violação de direitos, família e comunidade e cidadania.
Graduada em Pedagogia, Luciana participou, em 2017, dos projetos Crescer com Valores e Educação Sexual, ambos para faixa etária de 10 a 12 anos, e já percebe a influência da incorporação dos projetos do Instituto Criança é Vida no dia a dia com as crianças. “No caso dos valores, tema que já era trabalhado aqui, passamos a ver os resultados muito nitidamente na fala das crianças, que começaram a usar expressões como ‘muito obrigado’ e ‘por favor’”, relata a educadora.
“A didática utilizada nos projetos e atividades propostas pelo Instituto Criança é Vida é muito clara e fácil de ser aplicada. Isso ajuda muito no nosso trabalho.”
Maria Luciana Bernardes
Transformação a longo prazo
Para Clayton Santos, a transformação que o conhecimento gera no comportamento dos adolescentes em geral só é percebida a longo prazo. Segundo ele, é quando os jovens adquirem um pouco mais de maturidade que começam a trazer o retorno daquilo que aprenderam. “Muitos adolescentes que saíram aos 15 anos da organização voltam para nos rever e trazem relatos sobre questões da sexualidade com as quais tiveram que lidar e encontraram soluções”, conta. Para Clayton, esse é o retorno mais valioso que a profissão oferece. “É mais importante que o salário que eu ganho”, diz.
“Poder ajudar os adolescentes e as crianças a irem em busca dos seus sonhos e realizações é a minha maior gratificação em ser professor”
Clayton Santos
Para Maria Luciana, o valor de ser educadora também vai muito além do financeiro. “É gratificante ver que o conhecimento que você passou foi absorvido e aparece no discurso das crianças”, explica. Para ela, o impacto positivo que o trabalho também tem nas famílias é outro motivo de satisfação. “Dia a dia estamos vendo a melhora tanto da família, quanto da criança”, comemora.
Apesar da gratificação pessoal, o educador Clayton avalia que o professor ainda precisa ser melhor remunerado no Brasil. E ele tem razão. Segundo levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), “Um olhar sobre a Educação”, divulgado em 2016, o salário dos professores do Ensino público Fundamental e Médio no Brasil (US$ 12,3 mil por ano ou quase R$ 40 mil) é menos da metade da média nos 35 países analisados e está abaixo dos latino-americanos como Chile, Colômbia e México.
Na prática, a baixa remuneração prejudica, inclusive, a formação dos docentes. É o que aponta a educadora Maria Luciana, especialista em educação especial e psicopedagogia. “O professor é um profissional que precisa estar sempre em formação, se renovando e estudando. Mas ele não ganha para isso”, lamenta.
Clayton faz também um alerta sobre a violência física e verbal que muitos professores enfrentam dentro de sala de aula e destaca a necessidade de se resgatar o respeito aos professores. “Minha mãe sempre falava: seu professor é como se fosse da família. Você tem que respeitá-lo porque ele está lá para te ensinar e para que você tenha o conhecimento”, lembra.
Também vem da infância a principal referência que fez com que Maria Luciana se tornasse uma educadora. Mesmo depois de ter passado por outras áreas, como a enfermagem, e apesar de desempregada na época, não desistiu de cursar Pedagogia. “Professores que eu tive na infância me trouxeram para a sala de aula”. Em especial, uma professora de História chamada Joana D’Arc. “Ela viajava o mundo inteiro e mandava para a gente cartões postais em que escrevia: ‘fechem os olhos e imaginem que vocês estão aqui junto comigo.’ Pessoas assim me formaram professora”, conta.
A pouca valorização, o desrespeito, a remuneração inadequada e até a falta de interesse de alguns alunos em aprender, não tiram a motivação de profissionais como Clayton. “O professor levanta todos os dias e vai dar aula com gosto e prazer de ensinar porque ele sabe que pelo menos 10 daqueles 40 alunos em uma classe estão realmente atentos ao que ele diz e vão ter um futuro brilhante”, completa o educador que sonha em um dia ter a sua própria organização social.
Que professores como Clayton e Maria Luciana continuem sendo bons exemplos de profissionais comprometidos e apaixonados pelo que fazem e que não percam nunca a capacidade de imaginar, de sonhar e de construir, por meio da educação, um Brasil melhor para todas as nossas crianças. Parabéns a todos os professores deste país!