Se cada organização social tivesse o seu próprio código genético, como acontece com o nosso DNA, não seria exagero afirmar que o voluntariado é a herança “genética” mais antiga do Instituto Criança é Vida. Criado a partir da iniciativa do Presidente da Indústria Química e Farmacêutica Schering-Plough, Sr. Gian Enrico Mantegazza, em 1996, o projeto formou, no seu primeiro ano, 20 voluntários entre os funcionários da própria empresa que, juntos, atenderam nove instituições, beneficiando 600 famílias. “A ideia era formar funcionários em torno de algum tema dentro do que é hoje o projeto ‘Criança é Vida – Adultos’ para que fizessem as capacitações em organizações durante os fins de semana. Assim nascia o voluntariado na empresa”, conta a Gerente Social e Associada Fundadora do Instituto Criança é Vida, Ana Maria Germano.
A proposta deu tão certo que começou a despertar o interesse de outras organizações como o Hospital Israelita Albert Einstein. “Foi aí que o Instituto cresceu e se separou da empresa para se dedicar à sistematização dos conteúdos para as outras organizações”, lembra Ana Germano.
Já em 2000, o trabalho recebeu um dos seus primeiros reconhecimentos. O Criança é Vida foi considerado modelo na publicação “Como as Empresas Podem Implementar Programa de Voluntariado”, do Programa Voluntários do Conselho da Comunidade Solidária.
Desde a criação do Criança é Vida, há 21 anos, a empresa Schering-Plough passou por fusões e aquisições. Pertence hoje à atual MSD, mas a vocação para o voluntariado persiste. Até os dias de hoje, a parceira mantenedora do Instituto mantém viva a tradição de promover e incentivar ações voluntárias entre os seus colaboradores.
Entre as mais recentes está a formação de voluntários em projetos do Instituto para a aplicação direta com crianças em organizações selecionadas pelo Criança é Vida. A formação acontece na própria empresa MSD, no horário de almoço, e dura 1h30. Depois de receberem a formação, “a empresa libera os funcionários numa tarde de sexta-feira, a partir das 12h30, para que façam a multiplicação do conteúdo do projeto na organização”, explica Ana Germano.
Antes de cada proposta anual, uma equipe do Instituto vai até a empresa para fazer uma apresentação de sensibilização entre os funcionários. “Nessa reunião apresentamos a nossa proposta de trabalho, os temas que serão abordados, a metodologia lúdica que o Instituto utiliza, a agenda com as datas das ações programadas, assim como o tempo que cada um irá ter que disponibilizar para toda a ação voluntária”, detalha a Gerente Social. É a partir daí que os interessados se inscrevem para fazer parte do projeto.
Foi o que aconteceu com Leide Daiane Santos Parreira, farmacêutica e Analista da Garantia de Qualidade da MSD, em São Paulo. Interessada em participar do projeto desde o ano anterior, mas impedida em função da falta de tempo, em 2017 Leide conseguiu a organização pessoal necessária para não deixar passar mais uma oportunidade de atuar, pela primeira vez, como educadora voluntária. “Foi muito gratificante participar. O sentimento de recompensa é muito grande”, conta.
Este ano, o tema trabalhado na formação foi Valores, dividido em dois módulos: o primeiro sobre honestidade, confiança e amizade e o segundo sobre consumo consciente. O conteúdo foi escolhido para dar continuidade aos temas já trabalhados no ano anterior e nas mesmas instituições beneficiadas. Sempre que possível, a ação também acontece com a presença dos voluntários que participaram da primeira multiplicação. A participação das crianças de 7 a 9 anos chamou a atenção da voluntária Leide Parreira. “Eu senti que conceitos como respeito e honestidade já tinham sido muito bem internalizados por eles, apesar de tão pequenos”, revela.
A partir de agora, a farmacêutica já se organiza para que esta seja apenas a primeira de muitas ações voluntárias. Em tempos de muita correria e vícios tecnológicos, Leide acredita que iniciativas assim são uma oportunidade para quebrar o ritmo, aprender, olhar nos olhos, e se doar para o outro. Aos novatos interessados em participar ela faz uma alerta. “Eu recomendo muito, mas quem vai a primeira vez vicia e não quer mais parar”, brinca.
Além das ações de formação, em 2017, voluntários da MSD participaram, pelo segundo ano consecutivo, de um mutirão de apoio ao Centro da Criança e do Adolescente Ana Maria, na zona sul de São Paulo. Os funcionários ajudaram a fazer melhorias na estrutura da sede, como pintura, e ainda participaram de uma festa junina organizando comidinhas e brincadeiras.
Na empresa desde a época da criação do Instituto, só este ano, depois de se mudar para São Paulo, foi que o Gerente Distrital de Vendas da MSD Rodrigo Cardoso teve a oportunidade de trabalhar como voluntário. “Sou da época do sr. Gian Enrico Mantegazza e vi nascer o Instituto a partir do empenho e do sonho dele de fazer algo bom para as pessoas e, principalmente, para as crianças”, lembra.
Mais de duas décadas depois, o administrador de empresas se surpreende com a proporção que o trabalho do Instituto tomou. “Me sinto muito honrado de ver o tamanho que o projeto ganhou, se tornando uma instituição reconhecida nacionalmente”, revela Rodrigo Cardoso.
Em 2017, no seu primeiro contato com o voluntariado, Rodrigo estreou em dose dupla. Participou do mutirão e das formações organizadas pelo Instituto Criança é Vida. “Foi uma oportunidade ímpar. Ser voluntário faz com que a gente reflita sobre os nossos valores e nos mostra que podemos contribuir com as crianças”, diz.
A receptividade das crianças surpreendeu o voluntário. Ao voltar como educador à mesma instituição que já havia recebido o mutirão, ele foi reconhecido e chamado pelo nome por algumas delas. “Aquilo me mostrou que de alguma maneira a minha presença teve um impacto naquelas crianças. Algo de positivo aconteceu ali. Fiquei muito feliz”, comemora Rodrigo.
“A gente chega para o trabalho voluntário meio cansado da rotina profissional e sai de lá até mais leve. É conhecendo melhor as crianças e vendo as dificuldades que elas enfrentam no dia a dia que nós aprendemos com elas. Ser voluntário vale muito a pena.”
Rodrigo Cardoso – voluntário MSD
O OUTRO LADO
Não são apenas os voluntários que tiram aprendizados importantes deste tipo de experiência. As ações voluntárias também geram impacto em quem as recebe. “No trabalho com voluntários há uma troca muito gratificante. Eles passam a conhecer um pouco da nossa comunidade e quem são as crianças atendidas”, conta Jenny Ribeiro dos Santos, assistente técnica do Centro de Convivência Social Bom Jesus – Jardim Imbé (CCInter), instituição beneficiada pelo voluntariado da MSD em 2016 e 2017.
Responsável pela integração entre educadores e voluntários, Jenny dos Santos vê na organização do Instituto o segredo para o sucesso da iniciativa. “Não são pessoas que chegam simplesmente para fazer um trabalho voluntário. Tem toda uma parte pedagógica estruturada por trás, o que dá qualidade ao trabalho. Tem também uma leveza, sem perder a proposta de reflexão. Assim, o conhecimento vem de forma tão lúdica que o aprendizado é muito grande”, revela.
Sobre os conteúdos trabalhados, Jenny destaca a pertinência dos temas e a maneira como os valores, “muitas vezes esquecidos no dia a dia”, são recuperados. “O resgate desses valores é feito de uma forma tão cuidadosa que as crianças absorvem de maneira gigantesca. Elas reproduzem o que aprenderam e isso vai ganhando outras proporções. O trabalho não se encerra nas crianças atendidas, mas chega à família e à comunidade”, explica.
Quando o assunto são os próximos passos do voluntariado entre a MSD e o CCInter, a assistente técnica não tem dúvidas. “Quero que o projeto continue e que essa parceria se prolongue”, finaliza.
Um elo importante na rede de parcerias para que a ação voluntária aconteça são os educadores que atuam diariamente com as crianças das instituições beneficiadas. “Eles recebem as apostilas com antecedência para poder atuar junto com o voluntário no dia da multiplicação. Existe também uma troca”, explica Ana Germano, do Instituto Criança é Vida.
Fábio Costa Carneiro da Silva é um desses educadores. Há dois anos ele participa do projeto e vê de maneira positiva a iniciativa de uma empresa privada, como é a MSD, ceder parte do tempo dos seus funcionários para a realização de um trabalho sócio educativo com as crianças. Sobre a metodologia utilizada pelo Instituto, o educador destaca a praticidade, o dinamismo e a ludicidade presentes nas atividades e a convergência dos conteúdos com os temas já trabalhados na instituição. “Foi uma experiência muito positiva. A metodologia usada é ótima. Não é algo maçante para as crianças. Além disso, o aporte teórico e as temáticas abordadas só complementam o nosso trabalho”, avalia.
Outra parceria fundamental é a da empresa MGN. Ela é a responsável por toda a logística necessária, como transporte e confirmação de presença dos voluntários, que garante a realização das formações e das multiplicações.
PEGANDO A ESTRADA
As ações voluntárias da MSD já não acontecem apenas em São Paulo. Em Campinas, onde está localizada a fábrica da MSD, o Criança é Vida organizou, este ano, uma ação de mobilização voluntária.
Com a adesão de 38 voluntários, em outubro, foi realizada a festa de encerramento do Mês da Criança na Instituição São João Vianney, que atende crianças de 6 a 14 anos de idade.
O sucesso da iniciativa teve um gostinho especial para a Assistente Executiva da Diretoria de Operações da fábrica da MSD, Claudia Bassi. “Além de participar da festa, eu ajudei a mobilizar as pessoas na empresa. Fiz camisetas, fui às áreas, falei com os gerentes, coordenadores e pedi que fizessem a divulgação. O que mais me motivou foi o desafio de reunir os voluntários para participar da ação. As pessoas ficaram muito engajadas”, comemora.
A participação dos voluntários é reconhecida por meio de certificados emitidos pelo Instituto que, em geral, são entregues em momentos que possam valorizar a participação dos funcionários dentro da empresa. Foi o que aconteceu em Campinas. “Durante uma palestra do diretor da fábrica, houve um momento para a divulgação e o reconhecimento do trabalho dos voluntários que foram aplaudidos de pé”, conta Cláudia Bassi que aposta alto na divulgação como forma de sensibilizar pessoas e mobilizar cada vez mais voluntários.
Roseli Ubaldo é Gerente de Recursos Humanos e também participou da festa das crianças, além de outras ações voluntárias no passado. Ela acredita que para ver mudanças no mundo é preciso começar com as próprias atitudes. “Ainda que sejam ações aparentemente pequenas, são capazes de gerar impactos positivos na vida de pessoas e, consequentemente, da sociedade” diz. Por isso, seu plano é continuar contribuindo e fazendo cada vez mais trabalhos assim. “Não devemos desistir de criar um mundo melhor!” enfatiza.
“Contribuir com ações que podem transformar a sociedade e acreditar que somos capazes de fazer a diferença é o que me faz participar de ações de voluntárias.”
Roseli Ubaldo – voluntária MSD
Habituada a colaborar financeiramente com entidades assistenciais, a farmacêutica Mariana de Sousa Vilela teve a sua primeira oportunidade de participar ativamente de uma ação voluntária na festa das crianças. O resultado superou todas as suas expectativas. “Minha experiência foi a melhor possível. Percebi que aquele momento de entrega ao voluntariado fez muito mais bem pra mim do que para as crianças. Foi um momento que eu me desliguei de tudo e me dediquei somente a um momento de felicidade. Acredito que transformamos vidas com amor, com carinho!”, diz a analista da Garantia da Qualidade da MSD.
“Participar de uma ação voluntária faz cada segundo do seu dia ficar mais feliz. Você sairá renovado. Não perca a chance de deixar o seu dia mais feliz!”
Mariana de Sousa Vilela – voluntária MSD
PRIMEIRA IMPRESSÃO
As oportunidades de aprendizado e de ajudar alguém levaram o Estagiário de Compras da MSD Eduardo Pereira Baptista Ferreira dos Santos a participar de uma ação voluntária também pela primeira vez. “Fomos muito bem recebidos tanto pela organização quanto pelas crianças. Foi tudo bem planejado, todos os voluntários e todas as crianças conseguiram participar das brincadeiras. Ficamos todos muito à vontade e integrados”, conta.
“As crianças têm vontade de nos conhecer e aprender com a gente. Mal sabem elas que somos nós quem mais aprendemos. Acredito que todos devemos olhar mais para o mundo com os olhos de uma criança”
Eduardo dos Santos – voluntário MSD
Aos 23 anos, o estudante de Economia vai levar na bagagem aprendizados importantes a partir da vivência que a ação voluntária proporcionou. “Experiências como essa renovam nossas energias e nos dão novas perspectivas sobre a vida. Muitas dessas crianças passam por bastante dificuldade, mas não deixam de ter brilho nos olhos e um sorriso no rosto”, conta.
E ele não está sozinho. Cada um dos voluntários ouvidos nesta matéria traduzem de várias formas um mesmo sentimento comum tanto entre os que ajudam, quanto naqueles que são beneficiados: a gratidão.