Um belo sorriso é capaz de revelar muito mais do que alegria e satisfação com a própria imagem. É também um indicativo de saúde. Isso porque cárie, dentes desalinhados, mau hálito, perda dos dentes e até câncer de boca são problemas comuns entre muitos brasileiros e podem causar dificuldade para mastigar, falar, respirar, sorrir, além de má digestão, dores na face, na cabeça e no pescoço.
A boa notícia é que a melhor maneira de evitar tudo isso é a prevenção. Para isso, são necessários cuidados simples com a higiene da boca e dos dentes. Tratar os dentes para que eles não adoeçam é a maneira mais fácil, barata e sem dor de ter uma boca saudável.
Engana-se quem pensa que esses cuidados devem começar apenas quando surgem os primeiros dentes. É preciso limpar a boca do bebê mesmo antes de nascerem os dentes. Sempre utilizando objetos macios, como gaze ou fralda de pano umedecidos com água limpa. Nesta fase, a amamentação também tem um papel muito importante para a saúde bucal. É ela que promove o desenvolvimento dos músculos da língua, das bochechas e os ossos da boca e face, que juntos determinarão o posicionamento ideal dos futuros dentes do bebê.
Fica claro, portanto, que a saúde bucal depende de cuidados e hábitos que devem ser adquiridos muito cedo e precisam ser ensinados de pais para filhos, o que nem sempre acontece. Para o pediatra formado pela USP, Dr. Francisco Frederico Neto, além da falta de hábito e orientação em relação aos cuidados com os dentes, pais ainda cometem outros equívocos que são capazes de prejudicar a saúde dos dentes das crianças. “O primeiro é acharem que a dentição de leite não tem importância, pois será trocada pelos dentes permanentes. O segundo é não terem noção de uma alimentação adequada. E em terceiro vem o hábito de consumir muito doce e bebidas doces, como leite com chocolate ou engrossadas sem escovar os dentes antes de dormir”, conta.
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada pelo IBGE em (2013), apontavam que, apenas 44% das crianças (0 a 17 anos) no país haviam consultado o dentista nos últimos 12 meses em relação a data de realização do estudo. Enquanto o recomendável é que as visitas ao dentista aconteçam a cada seis meses a partir dos dois ou três anos de idade. No caso das crianças, além da baixa frequência, existe um outro problema comumente relacionado ao dentista: o medo, e que pode durar a vida toda. “O ideal que as consultas sejam feitas por odontopediatra, que costuma ter todo um jeito para, aos poucos, conquistar a confiança da criança. Um início bem feito costuma evitar traumas”, aconselha o Dr. Francisco, assessor científico e formador do Instituto Criança é Vida desde 1996.
Criando hábitos
Atento à saúde integral das crianças e ao papel que os adultos têm no desenvolvimento saudável delas, o Instituto Criança é Vida também realiza formações voltadas para a promoção da saúde da boca e dos dentes. O módulo Saúde Bucal do projeto Criança é Vida Adultos destaca a importância que deve ser dada aos dentes e à boca, e enfatiza o papel fundamental da família nesse cuidado. De um modo lúdico, por meio de cartazes e atividades, promove o esclarecimento de dúvidas que costumam envolver o tema – como o mito de que mascar chiclete pode acabar com o mau hálito ou a falta de conhecimento de que a cárie, como outras doenças, também pode ser transmitida de uma pessoa para outra.
Já o módulo “Quá, quá, rá, quá, quá, do meu dente vou cuidar”, do projeto Criança é Vida Crianças, traduz em uma linguagem própria para a faixa etária de 3 a 4 anos, os principais conceitos de higiene necessários para a manutenção da saúde bucal. Modelando com argila, fazendo colagens ou desenhando ao som da música “Dente por dente” (do CD do Instituto Criança é Vida), meninos e meninas vão aprendendo pequenas mudanças de hábitos e se tornando agentes de transformação da própria realidade. Os módulos que trabalham a saúde bucal dentro dos projetos do Instituto Criança existem desde o seu início, em 1996, e, somente no ano de 2016, mais de 12.000 crianças e adultos foram beneficiados com o conteúdo.
Graças a medidas de prevenção, proteção, educação e promoção à saúde bucal a incidência de cáries vem diminuindo no Brasil. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (SB Brasil 2010), apontam uma queda de 26% no número de cáries dentárias nas crianças de 12 anos desde 2003. Na faixa etária dos 15 aos 19 anos a redução foi ainda maior, de 30%. Além disso, a necessidade de prótese parcial (substituição de um ou alguns dentes) entre os adolescentes também caiu 50%.
Cuidar muito bem dos dentes é, portanto, um aprendizado que deve ter início muito cedo e durar a vida toda. Em crianças que perdem os dentes de leite precocemente, as chances de terem dentes permanentes em posição incorreta são maiores. Além dos impactos para a saúde física, como dificuldade de higienização e o aumento do risco de cáries, a estética também fica prejudicada, o que pode afetar ainda a saúde emocional de crianças ou adolescentes. Baixa autoestima, isolamento e até depressão podem ser as consequências em casos assim. Além disso, tratar problemas graves de saúde bucal geralmente custa caro. Por isso, a prevenção ainda é o melhor remédio.
Onde procurar ajuda
Postos de Saúde, escolas estaduais e municipais, faculdades de odontologia, sindicatos, organizações não governamentais e filantrópicas oferecem tratamento gratuito. Informe-se na sua cidade.