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Em tempo de crescer e ser feliz

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Se valorizarmos o que somos, se mantivermos nossa alegria de viver, sempre alguém vai gostar da gente. O conselho faz parte do projeto Criança é Vida Crescer com Valores – Nosso Papel para uma Sociedade Melhor. Criado em 2015, ele busca trabalhar a autoestima e a valorização de si próprio entre crianças de 10 e 12 anos de idade.

Atividades com as crianças do CEI Estrela Nova, em S‹o Paulo. Ter consciência do próprio valor, respeitar suas características físicas e sentir-se bem em ser como se é são conceitos que fazem parte do desenvolvimento da autoestima. Mas para se chegar a ela, é preciso uma construção que começa muito cedo. Tem início ainda na primeira relação com os pais ou cuidadores, se estende por toda a infância e, em geral, vai até a fase adulta. O que é dito a uma criança ou mesmo a um bebê também traz consequências na construção da sua autoimagem. Por isso, todo cuidado é pouco com o que dizemos a elas.

Independentemente de como é tratada no ambiente familiar, na creche ou na escola, toda criança está também exposta aos padrões de beleza socialmente estabelecidos e, muitas vezes, aceitos sem questionamentos. Isso acontece de maneira mais forte no caso das mulheres. Para ser considerada “bonita”, quase sempre é preciso ser também magra, loira e ter cabelos lisos.

Em 2013, o Brasil superou, pela primeira vez, os Estados Unidos no número de cirurgias plásticas realizadas. O que mostra como a procura pelas formas perfeitas é grande por aqui. O aumento das mamas foi a intervenção mais procurada pelas brasileiras. O país também liderou o número de lipoaspirações (retirada de gordura localizada no corpo) e correção de seios caídos.

É neste ambiente, portanto, que nossas crianças estão crescendo e sendo formadas. Como será que uma menina imagina que vai precisar ser quando adulta para que seja considerada uma mulher bonita? E por que é preciso atender aos critérios existentes?

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Tentar responder a essas perguntas é o que torna ainda mais importante o papel dos adultos, que embora também estejam inseridos nessa mesma sociedade de consumo e de culto à beleza, são os responsáveis por ajudar a criança a construir a sua autoestima e a desenvolver uma imagem positiva de si mesma.

Segundo dados da Pesquisa Nacional de Amostras de Domicílios (Pnad) a população negra no Brasil, em 2013, já representava 53% dos brasileiros. Apesar disso, essa representação numérica nem de longe se repete quando o assunto é padrão de beleza ou sociedade de consumo. São as modelos brancas, magras e com traços europeus que vendem os conceitos de beleza que consumimos diariamente na TV, na internet, nas revistas, nas ruas etc.

É assim também nas lojas de brinquedos onde a estrela da prateleira é a boneca loira que exibe o corpo longilíneo e os olhos azuis.

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Neste aspecto, são as meninas negras que acabam sofrendo duplamente. Além de não serem brancas, também não se sentem bonitas, já que não atendem aos padrões estabelecidos. Não raramente elas também são vítimas de comentários pejorativos em relação às suas características físicas, como o cabelo crespo, o que contribui para aumentar o sentimento de inadequação e diminuir a autoestima.

Negra, com 11 anos de idade, Soffia poderia ser só mais uma menina que representa esta realidade brasileira. Ela já sofreu com o preconceito e até já tentou se adequar aos padrões de beleza alisando os cabelos… Mas foi aí que percebeu que não estava satisfeita tentando parecer o que não era. Viu que poderia, sim, ser diferente e ser feliz assim.

A menina, que hoje é Mc, buscou no Hip hop a sua maneira de virar esse jogo. Em entrevista à revista Trip, ela conta um pouco da sua história que poderia ser a de muitas pequenas brasileiras. O incentivo da mãe teve papel fundamental no processo de valorização das diferenças e de construção da autoestima pelo qual Soffia passou.

Feliz com o sucesso como cantora e com a sua própria imagem, Soffia mantém viva a sua melhor essência: a alegria de ser criança. Na sua música Brincadeira de Menina, a pequena Mc – que o sucesso não transformou em miniatura de adulta – celebra, além da alegria e da diversão, o respeito às diferenças e o não preconceito. Uma aula para muita gente grande!

Confira aqui a entrevista da Mc, no canal da Trip: