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O som da vida

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Imagem: Instituto Criança é Vida
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Ainda durante a gestação, são as batidas do coração que dão aos pais a certeza de que dentro daquela barriga já há um novo ser em formação. No momento do parto, é o choro do bebê o som mais aguardado, como que dando boas-vindas ao seu novo mundo. Já do lado de fora, é na voz da mãe que o bebê encontra tranquilidade e começa a estabelecer os seus primeiros vínculos afetivos. Depois vêm as canções de ninar, as cantigas de roda, o primeiro aniversário ao som do clássico “parabéns para você”, e assim a vida segue, sempre cheia de sonoridades e significados.

Trilha sonora da própria vida, a música está presente na nossa história desde antes do nascimento. A musicoterapeuta e educadora musical Melissa Lima explica que “ainda em vida intrauterina, no 5º mês de gestação, o bebê tem seu sistema auditivo periférico formado, tanto anatômica quanto fisiologicamente. A partir deste momento ele ouve ruídos internos e externos, podendo registrar e distinguir a voz da mãe. Ao nascer ele demonstra reconhecer o timbre materno, expressando emoções, alterações de comportamento e dos batimentos cardíacos”.

Na prática, a educadora dá exemplos de como a música pode ajudar mães e bebês desde a gestação. “A música pode ser atuante ao longo do período intrauterino, embalando, acalentando, promovendo o bem-estar da mãe e do bebê e auxiliando no vínculo afetivo entre ambos. Após o nascimento, é perceptível a mudança de humor do bebê quando reconhece essas cantigas ou músicas, cessando choros e favorecendo a sensação de conforto”, conta.

“A beleza das cantigas alimenta o bebê e a história sonoro-musical da família e de gerações futuras”
Melissa Lima

Mas para que isso funcione, a coordenadora do espaço de Educação Musical e Musicalização A Casa da Música dá algumas dicas. “É importante observar e cuidar da qualidade de sons, conversas, entonações e músicas que possam favorecer a promoção de uma paisagem sonora mais adequada. As cantigas de ninar são uma boa escolha para o repertório do bebê, pois são melodiosas e trazem letras possíveis de serem adaptadas (com o nome do bebê, por exemplo)”, ensina a especialista.

A música também pode educar. É o que comprovam os estudos aliados à observação prática de quem lida diretamente com as crianças. “Os benefícios indiretos que a música oferece para os que a praticam são inúmeros e já comprovados pela ciência, em pesquisas, algumas delas com décadas de duração”, conta o professor formado em composição pela USP, Danilo Tomic.

Imagem: Creative Commons CC0
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Com 17 anos de experiência em sala de aula, o educador acredita que, além dos conteúdos diretamente musicais, responsáveis por desenvolver a capacidade de escuta, de concentração, de raciocínio matemático e de proporções, outros conteúdos ligados às relações sociais dos alunos também são desenvolvidos a partir das práticas musicais, principalmente as coletivas. A capacidade de ouvir, de respeitar o outro e a noção de responsabilidade dentro de um grupo são algumas delas. “A capacidade de fazer silêncio e de concentração trazem enormes benefícios na performance escolar dos alunos”, afirma Tomic.

“Na criança, os sentidos estão abertos plenamente e são mais afetados pela linguagem musical. O som permite viajar e se transformar”
Danilo Tomic

Mestre em música pela Unicamp, Deborah Rossi afirma que o contato com a linguagem musical estimula áreas importantes do cérebro, ajuda no desenvolvimento do raciocínio lógico e criativo e ainda reforça questões importantes de saúde como postura, respiração, alimentação saudável e o combate ao uso de drogas.

Imagem: Creative Commons CC0
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Não por acaso, a música é presença obrigatória nos currículos escolares da educação básica no Brasil desde 2012 (lei nº 11.769) e representa também uma forma de transmissão da cultura popular. “Cultura educa e forma cidadãos pensantes e questionadores, o que é fundamental para o mundo de hoje”, afirma Rossi. Bacharel em regência pela Unicamp, a professora critica a falta de regulamentação do ensino de música. “Atualmente, qualquer professor pode dar aula de música. Não é necessária a formação acadêmica. E a grande maioria não está apta a fazê-lo”, conta.

“A música é uma das formas de expressão mais autênticas que carregamos desde muito cedo. Quando crianças, não temos ‘pudores’ de nos expressarmos cantando”
Déborah Rossi

Imagem: Creative Commons CC0
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Para Tomic, a prática musical no ambiente escolar faz parte da formação integral do aluno e defende o ensino de instrumentos e a construção de uma orquestra formada por alunos dentro da escola. Ele acredita que, assim como os corais, as orquestras sejam “poderosíssimos instrumentos educativos”. “O estado mental em que a pessoa se coloca ao fazer música coletivamente, como em uma orquestra, é o ideal para o aprendizado”, afirma.

A MÚSICA COMO REMÉDIO

Não é só na educação que a música produz efeitos positivos. Além de educar, a música também pode trazer benefícios para a saúde. Como quando a mãe canta para o seu bebê e com isso cria vínculos.

Imagem: Instituto Criança é Vida
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“A medicina já reconhece a utilização da música como ferramenta de promoção da saúde e bem-estar, sendo a musicoterapia uma disciplina científica cada vez mais atuante”, afirma a musicoterapeuta Melissa Lima. A especialista cita estudos que comprovam, por exemplo, que a musicoterapia pode aumentar os índices de aleitamento materno entre mães de recém-nascidos prematuros. Conta ainda que, na Argentina, trabalhos de mais de duas décadas mostram como a estimulação musicoterápica pré-natal tem auxiliado no trabalho de parto, desde a diminuição da tensão da mãe e das dores das contrações, até a recepção do bebê ao nascer.

No Brasil, um passo importante nessa direção foi a recente aprovação da inclusão da musicoterapia – que é o uso dos elementos da música (som, ritmo, melodia e harmonia) com propósito terapêutico – como procedimento oferecido regulamente pelo sistema público de saúde.

Criador e coordenador do projeto social Passarim, que utiliza a música como ferramenta educativa com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, Danilo Tomic não tem dúvidas sobre o benefício terapêutico da música em vários sentidos. Segundo ele, a cura pode ser tanto física como nas relações sociais e familiares ou psicológica, baseada no aumento da autoestima. “No Passarim a cura no âmbito social é a mais visível. As pessoas que se dedicam ao fazer musical frequente tornam-se mais calmas e organizadas mentalmente”, conta.

Imagem: Creative Commons CC0
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Deborah Rossi, que é professora do conservatório municipal de Guarulhos (SP), onde atende a um público “com muitas limitações e dificuldades financeiras”, conta que também já viu muitas transformações acontecerem a partir do ensino musical. “Tive vários exemplos de crianças e jovens, antes sem perspectiva de vida, entraram na universidade e hoje são meus colegas de profissão, transmitindo um pouco do que aprenderam e ajudando a modificar a vida de outros jovens”.

Ajudar a transformar e a melhorar a vida de crianças e adolescentes é o que nós, do Instituto Criança é Vida, fazemos há 20 anos. E é por acreditar que com músicas e brincadeiras, a transmissão do conhecimento é feita com leveza e alegria, o que ajuda a fixar conceitos trabalhados, que também investimos na música como importante instrumento no auxílio do aprendizado. Desenvolvemos um CD de músicas educativas, que usamos em nossos projetos. Conheça nossas músicas aqui: http://criancaevida.org.br/quem-somos/cd-crianca-e-vida/

“Aquilo que realmente modifica a vida das pessoas, permanece dentro delas e é multiplicado. A música tem esta característica”, comprova a professora Rossi.

Imagem: Creative Commons CC0
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Veja também:

Música na gestação
http://guiadobebe.uol.com.br/musica-na-gestacao/

Benefícios da música para a saúde
http://g1.globo.com/bemestar/noticia/2013/06/musica-acalma-ajuda-na-atividade-fisica-e-tambem-pode-aliviar-dores.html

Música ajuda no aprendizado das crianças
http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI66583-15153,00.html

Música educa
http://www.todacriancapodeaprender.org.br/cantar-educa-o-que-as-criancas-aprendem-cantando-e-ouvindo-cancoes/

Projeto Passarim
http://www.associacaopelafamilia.org.br/projetos/216-2/

A Casa da Música
http://espacoacasadamusica.blogspot.com.br/